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domingo, 13 de agosto de 2017

Segundo Dia dos Pais sem minha Princesa

Texto adaptado..

Hoje, dia 13 de Agosto,  dia dos pais. Desejo muitas alegrias àqueles que podem abraçar o seu pai, e aos filhos que têm também essa felicidade. Algo que nos é limitado no tempo, e que devemos saber aproveitar a cada momento, da melhor maneira possível.
Há doze anos meu pai não está mais entre nós. Embora soframos muito por isso, quando perdemos nossos pais, é algo inevitável. É a dialética da vida, a contradição que nos segue. Nascemos, vivemos, crescemos e morremos. Nossos pais nos acompanham até certo tempo, depois, cabe a nós acompanhá-los, em um ciclo permanente entre a vida e a morte, que somente é rompido quando não temos filhos. Sentimos suas ausências, mas nos conformamos porque assim é a vida.

Agosto, mês dos Pais -  DIA DOS PAIS DE UM CORAÇÃO PARTIDO - Talitha PietraHá quase 2 anos contudo, desde o dia 18 de outubro de 2015, essa lógica foi quebrada cruelmente, aproximando a morte da minha vida, por um atalho para o qual nunca estamos preparados. Ao contrário de quando perdemos nossos pais.

Minha filha, Talitha Pietra, nos deixou, vitimada por um atropelamento, uma morte brutal, violenta. 

Desde então, alguns dias que a sociedade celebra, em parte para atiçar a lógica consumista, mas também seguindo aquelas tradições que reforçaram os laços familiares, dentro da nossa formação judaico-cristã, nos consome em lembranças e saudades que tornam essas datas momentos tristes, quando deveriam ser momentos de alegrias.

Nada disso, contudo, impede que sintamos a satisfação de termos ao nosso lado outros filhos que merecem todo o nosso amor. Mas é inevitável sentirmos a ausência de uma parte de nós, que se foi consumida em uma tragédia.

Agosto, mês dos Pais -  DIA DOS PAIS DE UM CORAÇÃO PARTIDO - Talitha Pietra
Às vezes sinto um egoísmo reverso, e me consumo sozinho, internamente. É uma perda minha, a mesma dor pela qual passa também sua mãe, mas diante do sofrimento incomensurável e da sensação de ter o coração partido em pedaços, me entrego à solidão, sem considerar o fato de que milhares de outros pais e mães passam pela mesma situação.

É um sentimento único, que me faz sentir impotente por uma dor pela qual jamais conseguirei algum antídoto. Ela é permanente, como se um membro do corpo fosse dilacerado. Vivo dividido entre a impressão de que a parte perdida está em um ótimo lugar, e a dura realidade de que é uma ausência sentida pelo coração e a mente, mas que não retornará.

Às vezes tenho a impressão de que minha filha está comigo. Por outras, sinto remorsos quando porventura vivo alguns instantes de alegria, e ao lembrar-me dela sinto vontade de punir-me, como se não fosse mais me dado o direito de sentir alguma felicidade. É um conflito permanente que devo enfrentar.

Tenho procurado fazer isso me aproximando cada vez mais de meus filhos. Mas ciente de que tenho outro desafio, não posso sufocá-los e muito menos transferir para eles o amor que sentia por ela. Meu sentimento por eles deve ser autêntico, transparente, e assim tenho procurado fazer. Amá-los como deveria fazer mesmo com a presença dela. Nem mais, nem menos.

Agosto, mês dos Pais -  DIA DOS PAIS DE UM CORAÇÃO PARTIDO - Talitha Pietra
Esse é um dilema somente possível de ser avaliado por quem já viveu essa trágica experiência. E nada pode nos confortar, a não ser estabelecendo uma permanente relação entre passado e presente. Vivendo o amor pelos meus filhos em vida, carregando em minha memória a lembrança amorosa de minha filha. E procurando tirar dessa perda algo que melhor possa me ensinar a ter uma boa convivência como meus filhos.
Ter o carinho, amor, respeito e amizade, é o melhor dos presentes para quem tem um coração partido. Não pelo futuro, como sempre pensamos, de ter um filho para cuidar de nós na velhice, pois ele é absolutamente incerto. O futuro é incerto. Mas pelo presente, pela necessidade de sobrevivermos a essa enorme perda. Somente o amor de meus filhos é capaz de aliviar meu sofrimento, amenizar as lembranças e conter a saudade de um amor que ficou, mas de uma parte de meu ser que se foi.

Enquanto eu lembrar da minha filha, portanto enquanto eu for vivo, seu amor e o amor de meus filhos sempre serão estímulos para que eu possa seguir adiante. Acima de tudo, para que eu possa transmitir a meus filhos valores que lhes ensinem a viver com dignidade e honestidade.

Nesse dia dos pais, o segundo sem minha filha, tenho meus filhos comigo, e a suas amizades como o melhor presente. Mas ela também está em meu coração, e sempre estará. Entre alegria e sofrimento carregarei para sempre esse sentimento que embora dúbio é para mim um desafio, porque preciso ter minha filha sempre presente.
Agosto, mês dos Pais -  DIA DOS PAIS DE UM CORAÇÃO PARTIDO - Talitha Pietra


Esta é a principal luta que travamos com a morte. E atingirmos isso é uma vitória da vida, do amor, e da perfeita sintonia entre coração e mente. Este é o meu destino. O nosso destino!


(*) Esse texto foi originalmente por Romualdo Pessoa em seu blog http://gramaticadomundo.blogspot.com.br/2010/08/coracoes-e-mentes-dia-dos-pais-de-um.html. O Caso Talitha fez pequenas modificações para adequar a história do Pai de Talitha. 
Procurando por textos para inspirar a criação de um outro, encontrei este lindo texto de Romualdo. O CasoTalitha, deseja a Romualdo e a todos os Pais, um excelente dia dos pais (todos os dias :) )